Thursday, May 23, 2013

Liberdade

 Tomada pelas concepções modernas, a Liberdade apresenta-se como a finalidade das coisas humanas que anseia pela libertação da vontade individual da vontade do seu semelhante. Um sonho que nas versões protestantes e ideologizadas do liberalismo esconde uma realidade incontrovertível: o preço de toda a liberdade individual é a limitação da mesma aos muros determinados pelo soberano. O protestantismo de Hobbes e Locke acreditava que as coisas da política poderiam ser separadas das concepções religiosas, esquecendo-se de que esta concepção era de origem luterana e que destas crenças supervenientes (derivadas de uma interpretação específica dos textos sagrados), mas tornava este núcleo de crenças secularizadas o núcleo essencial da comunidade política. Esqueceu, porém, que com o protestantismo viria uma concepção de liberdade que permitiria a qualquer indivíduo questionar esses próprios fundamentos. Depois de “um homem, um Papa” do protestantismo, viria “um homem, um Deus” da ideologia. O indivíduo ideológico passa a dispor de si de uma maneira até então nunca vista, passa a poder escolher a norma que o rege e com isso a poder dispor dos elementos conceptuais que até aí sustentavam o anseio da sua libertação individual. No anseio de se libertar o indivíduo liberal proclama a libertação da metafísica, para se prostrar aos pés das vontades do seu semelhante, transformadas em única unidade de conta do político.
A libertação do indivíduo, em todo o seu esplendor, falha ao prometer aquilo que não poderia nunca oferecer. A libertação do domínio do homem pelo homem, que o hipermoderno Marx havia prometido, na linha de toda a Modernidade, reveste-se da falsidade de um sonho que havia sido traçado por filosofias anteriores, com conceitos que foram deixados ao longo da senda libertadora. O erro da viagem foi acreditar que poderia chegar a um destino, em que cada um rasgou para si uma parte de um mapa, incompreensível nas suas fracções.
Toda a liberdade vem da incondicionalidade. O núcleo da comunidade é sempre inegociável. Só nos resta escolher se queremos servir os vivos ou os mortos. Se queremos ser escravos do mundo ou do que neste só está em sombras.

No comments:

Post a Comment