Thursday, January 23, 2014

A Narrativa Comunitária Pós-Moderna da Frente Nacional de Marine Le Pen


Vejo com muita tristeza a forma como a direita portuguesa que não provinda do MFA-Partidos se congratula com os triunfos da FN de Marine Le Pen, sobretudo porque à dita senhora não se conhece até ao momento reflexão coerente ou sequer uma leve abordagem a algo mais profundo do que os outros partidos “catch all”. Marine Le Pen é o exemplo acabado de um floreado linguístico comunitário que nada significa, nada representa ou apresenta. As vagas referências patrióticas de Le Pen só podem ser entendidas com um significante: uma massa unida por normas convencionais de convivência, o elemento constituinte de uma democracia directa, uma comunidade desprovida de Deus. Rousseau, Rousseau e mais Rousseau.

A retórica de Marine Le Pen é infantil, porque tenta colar uma visão vazia à opinião popular. O mesmo argumento que utiliza a favor do aborto, utiliza contra a eutanásia. Porquê? As sondagens a política democrática de massas têm destas coisas. No meio de toda uma retórica nebulosa, porque vazia de argumentos, sobrevivem apenas um conjunto de elementos liberais contemporâneos, nomeadamente a ideia de que na sociedade francesa e seus pressupostos modernos seculares existe um guia para toda a ordenação da vida política. O secularismo serve para manter o Islão aparte, mas também para sustentar a ideia de que a política sobrevive sem forma religiosa.

Não será necessário acrescentar que o secularismo é a forma religiosa máxima do liberalismo contemporâneo. Nem que quando por Nação se entende “povo”, não se está a tratar de nacionalismo, mas de algo que é no presente tido por insulto. E de algo que tem intenções localizáveis junto do socialismo e comunismo.